sexta-feira, 13 de maio de 2022

gardunhos - todas as letras

AL-MUTAMID

Al Mutamid, De metro e meio
Sevilhano e muçulmano
mano a mano
Como o Corão ensina

Al Mutamid, De metro e meio
E de Beja aquele anseio
Ele que veio
Pela guerra concubina

Das sereias do siroco
Veio a inspiração
São novas as madrugadas
Na hora da oração
Essas Lendas encantadas
Que brilham na escuridão

Al mutamid, de metro e muito
Pelo céu abençoado
Também andas prometido / tu perdido
A glória do califado
Vais na coma do cometa
Deus é grande
E Maomé e seu profeta

Al Mutamid, de metro e mais
d’ Huelva Andaluzia
O dia e da cimitarra
gana e garra
Inda a barba é fantasia

Al Mutamid, de metro e muito
Tem uma alcova de guerra
Tem a terra toda
Daqui e de além mar
Na concha do seu olhar


ÁS PORTAS DE SANTARÉM.

Vai Mem Ramires vai
Cai a fortaleza cai
Bate com toda afirmeza
Shantarin vai ser Portuguesa

Deita mão nas sentinelas
E o punhal pelas goelas
Que este mundo é muito pequeno
Para tantosarraceno

Vai Mem Ramires vai
Cai a fortaleza cai
A muralha ali é só pele e osso
E Este chão ha-de ser todo nosso

Plo fio daaa tua espada
pinta o campo de cor encarnada
Usa a voz do teu Soberano
Faz deste mundo escalabitano

CHORUS
Santarém vem a janela
Ver Sete portas rezadas
Vai-se a Alma da citadela por
7 muralhas rasgadas

Hey-Ui-Vai-Ah

Vai Mem Ramires vai
Cai a fortaleza cai
Vamos todos nesta aventura
Deus abençoe ...a tua armadura

Até me falta o ar
E esta espada quer respirar
Não me tentem com prata nem ouro
Santarém ....é o meu tesouro

Vai Mem Ramires vai
Cai a fortaleza cai
A ladainha amouriscada
Vai acordar aportuguesada

Amanhã será o dia
Corre sangue na mouraria
....Somos todos confessados E vocês
andam todos avisados

Pois Que A morte quando vem,
nunca pensa em mais ninguém,
Marca Uns tantos para levar,
Na praça de Santarém

Bate feio bate forte,
raça dos homens do Norte
Nunca tem medo da morte
Mem Ramires Amém/Hey...


Vai Mem Ramires vai
Cai a fortaleza cai
A ladainha amouriscada
Vai acordar aportuguesada

Até me falta o ar
E esta espada quer respirar
Não me tentem com prata nem ouro
Santarém é o meu tesouro


O MEU AMOR E TANTO

O meu amor e tanto
Que triste condição
O que é feito de ti
Que te não vejo aqui em dia de S. João
O meu amor e tanto
Não sabe dizer que nao

O meu amor e tanto
Levado pela ambição
despedaçado assim
Esta tão longe de mim não ouve esta oração
O meu amor e tanto
Mas Não sai do coração

O meu amor e tanto
Já nao tem salvação
So pede piedade
E a tua pouca idade é só inspiração
O meu amor e tanto
Não sabe dizer que não

CHORUS

O campo mo quer perder
De mim já não quer saber
Deus mo guarde pra que um dia
O possa voltar a ver

Este meu olhar molhado
Este Meu ventre roubado
Deus mo guarde pra que um dia
Ele Regresse ao meu cuidado

O meu amor e tanto
Já nao tem salvação
So pede piedade
E a tua pouca idade e só inspiração
O meu amor e tanto
Não sabe dizer que nao


MIL ANOS SEM TOMAR BANHO

A minha pele assombrada
Demora a ser cicatrizada
Deixem-me em paz E o vento por trás
suor que não cheira a nada

Eu Nunca disse que não
Ao Vinho e a ma alimentacão
A pele enrugada nunca foi lavada
A cantar putrefação

E não entendem dizem que é estranho
Viver a vida sem tomar banho
Que mal e que tem viver enjoado
tudo anda habituado

CHORUS
Cristão infiel Germano judeu
Ninguém tem a pele mais suja do que eu

E um julgamento prematuro
Dizem que cheiro a repolho maduro
Odor fedorento será o excremento
Mil anos a viver no escuro

E um bafio a leite azedo
Mas é a água que mete medo
dentes quebrados a boca em bocados
Pele rija e o meu segredo


TUDO AO MOLHO E FE EM DEUS

Não perguntes que eu não sei
Como é que eu aqui cheguei
De barba inda mal feita

Tenho ordens pra matar
tudo aquilo que encontrar
Pela esquerda e pela direita

São só gritos e confusão
Sangue e lanças alcatrão
Chove uma nuvem de setas
E tu da-lhe nas canetas
E um salve-se quem puder
Nada que eu possa fazer
Aíaque, puta de vida eles mhaviam de prender

Que venha a morte sem saber

Não sei o que vai aqui
Anda a morte por aí
Toda a rir e satisfeita

Vou de lama acorrentado
De empurrão pra todo o lado
Pela esquerda e pla direita

CHORUS

Meio morto e esfomeado
Anda tudo enlameado
Ao ca gente se sujeita

Começamos mais de mil
Atirados ao covil
Pela esquerda e pela direita

CHORUS

São só braços decapitados
Coitados e amputados
A sofrer desta maleita

Já perdi o sul ao norte
Ando à procura da morte
Pela esquerda e pla direita

CHORUS

Não perguntes que eu não sei
Como é que eu aqui cheguei
De barba inda mal feita

Tenho ordens pra matar
tudo aquilo que encontrar
Pela esquerda e pela direita


BOLA DE SABÃO

Canta o vento pela cidade
Cantigas de paz e alem mar
E frágil a eternidade
Que Sisnando anda a guardar

Há só um sol glorioso
A contar todos os dias
Horizonte majestoso
Saoas boas companhias

CHORUS
Sedas safiras grilhões
Trocam apertos de mão
crucifixos medalhões
Desnudam os corações

Vai Escondida pela neblina
Desde a margem ao limoeiro
Nos ombros dessa Colina
Dom Sisnando e padroeiro

Por Profanos e infieis
Corre Sangue de todas as raças
O espírito e todo santo
E todas as marias são graças

Tudo o que é belo e absurdo
Praça de todas as cores
E até o céu divino é surdo
A santos e pecadores

Sedas safiras grilhões
Trocam apertos de mão
crucifixos medalhões
Desnudam os corações

Vai Escondida pela neblina
Desde a margem ao limoeiro
Nos ombros dessa Colina
Dom Sisnando e padroeiro
Desta bola de sabão”


GARDUNHOS

Era um bandido, um pandilheiro
Um vigarista, um trapaceiro
Não me importa a tua ofensa
O crime até recompensa
Vou-te dar pena suspensa
A vida é improvisação

Toda a escuma da humanidade
por piedade ou tempestade
Ou vais de boa vontade
Ou regressas a prisão

Era um gatuno, um salteador
Um bom ladrao, um malfeitor
Toda a gente que nos resta
Com dois dedos de testa
E bem vinda a esta festa
Mesmo do fundo do poço

Quero lá saber o que a gente pensa
ou por crença ou por licença
Ou aceitas esta sentença
Ou vais de corda no pescoço

E quando amanhã chamar
E alguém te perguntar
Quem é aquele no pedestal
Que fundou este lugar
Não e desonra nenhuma
De saudar aquela escuma
A fogueira era só uma
A chama de Portugal

Era um bandido, um pandilheiro
Um vigarista, um trapaceiro
Não me importa a tua ofensa
O crime até recompensa
Vou-te dar pena suspensa
A vida é improvisação

Toda a escuma da humanidade
por piedade ou tempestade
Ou vais de boa vontade
Ou regressas a prisão

Era um gatuno, um salteador
Um bom ladrao, um malfeitor
Toda a gente que nos resta
Com dois dedos de testa
E bem vinda a esta festa
Mesmo do fundo do poço

Quero lá saber o que a gente pensa
ou por crença ou por licença
Ou aceitas esta sentença
Ou vais de corda no pescoço


SACOS DE PUZ

Sao Doenças e ofensas,
Maus agoiros e Sentenças,
E o fim da humanidade

Sao sombras sem luz nem dia
Condenados por bruxaria,
Algemados a cidade

Nem a chuva nem o vento,
Escapam ao sofrimento,
á Pestilência e escuridão

Ruas de portas fechadas
Trancas postas nas entradas
Nem Deus espera salvação

CHORUS
E o retrato do inferno, E Como um frio de inverno
Que não muda de estação
E uma fome sem fundo, Anda a devorar o mundo
E a cuspir na compaixão
Que A lama e o meu caixão
Vai,
deixa-me apodrecer

Aquela brisa no ar,
Sao os sinos a anunciar
Fogueiras de mau presságio

Sao mil asas de corvo,
sao mil vozes de escárnio
So dão vivas ao contágio

Cada grão de areia solta,
estremece a ampulheta
Mal vivem de caridade

As escondidas da luz,
Aqueles sacos de pus
Infectam toda a cidade


MORTOS DE SEDE

Gloria enectis SIti

Vem lá do céu um oratório
Anunciando o purgatório
Olhos sem sal nem luz nem nada
Só peço mais uma alvorada

O óleo todo derretido
Morro num canto esquecido
Sou parte e pedra sou parede
E Até o po morre de sede

Glóriaaaaaa

Deus que me ponha termo a isto
Que eu já quase não existo
corpos desfeitos de alcatrão
Semeiam decomposição

Nuvens fogem aos sitiados
chuva trancada a cadeados
Ca dentro perdemos a voz
Eaté Deus se esqueceu de nos


POR CIMA DO MEU CADAVER

Nunca ouvi de onde tu és
Queres os meus olhos nos pés
Mas a minha porta fechada
Vai resistindo a entrada
Ate da luz do próprio dia

Este Meu peito apertado
Cercado por todo o lado
Solta um último suspiro

Suspenso no ar que respiro
Sufocado na alvenaria

Vens de lá
de cabeça perdida
minha porta cindida
E o fim da ...minha Vida,
Será

Minha alma danada
Vê a Chama apagada
Pela vontade da espada ,
E Alá

Baixa a ponta das lanças
São mulheres e crianças
A rezar
Não há quem possa acudir
E até o Tejo vai a fugir ...
para o mar

Por uma fresta de luz
Rendida de braços nus
Que a maré não se contém
E já não vejo ninguém
Capaz contra o santo ofício

Não existe salvação
Fora deste coracao
E o teu feito assinalado
Ha-de ser recordado
Nas portas do sacrifício


A MENTIR OU A LAMENTAR

Esta lenda e so verdade
Num campo cego de vaidade
Foi-se a cabeça do alcaide
Nuno Gonçalves de Faria

Por engenho e coragem
Fez chegar uma mensagem
Ao filho em sua homenagem
Defensor da romaria

A Mentir ou a lamentar
Faria não se há-de entregar

Quand’O castelo foi chegado
O Alcaide acorrentado,
grita de pulmões inchado
Que ele não é moeda de troca

E Ali mesmo ele morreu
E a muralha ate tremeu
Eo filho chorou e gemeu
Mas o castelo não caiu

HALF CHORUS

O longo cerco desalentado
Abandonou ensanguentado
Rabo entras pernas enfiado
Pro ventre de quem o pariu

A Mentir ou a lamentar
(A mentir ou lamentar)
Faria não se há-de entregar
(Faria não se há-de entregar)
O diabo que os carregue
Quem os mandou arrenegar

Quem por Faria lá passar
Que sinta o chão por acalmar
A morte vive a lamentar


FONTE DAS LÁGRIMAS

Amanhã está pra chegar
sem que eu te volte a ver

A lua vai demorada
... E o sol não quer nascer

O teu véu esconde o céu
Dorme um sono repousado

Sonha que quando acordares
Estou no teu leito deitado

CHORUS

Pelo peito e pelas costas, Pela minha
...própria mão
arranquei tudo o que eles tinham
Comecei pelo coração

E Pra que ninguém duvide,
da rainha aclamada
Que todos beijem a mão,
ao cadáver da minha amada

Amanhã vai cá chegar,
Sem te sentir a meu lado
Ceifou a tua garganta,
um pai doido e odiado

Tenho a raiva do mundo inteiro
No Meu olhar envidraçado
Pertenço ao nevoeiro,
Como um lobo amaldiçoado

CHORUS

E Pra que ninguém duvide,
da rainha aclamada
Que todos beijem a mão,
ao cadáver da minha amada

Mas Que mal fiz eu a Deus,
Que me deixou nesta agonia
Fiz das tripas alma escura,
Mandei cancelar o dia

Amanhã se cá chegar,
carregado de maldade
Vai ter que remendar
A minha insanidade

CHORUS

E Pra que ninguém duvide,
da rainha aclamada
Que todos beijem a mão,
ao cadáver da minha amada


CRIME NO PACO DA ALEIVOSA

“A mim que querem matar o conde”

O destino desvia a morte
Para um tempo mais adiante
Tem direito á escolha do dia
Duma morte Mais humilhante

Uma raiva libertina
O meu peito perfurado
Tinha escapado a chacina
Se Deus tivesse ajudado

CHORUS
Anda um conde galego (galego)
Afazer ...vida escandalosa (escandalosa)
....meu amor não arrenego
...Uma vida ambiciosa

Anda um conde galego (...)
Afazer ...vida escandalosa (...)
Não sabe o que é sossego
...No Paço d’aleivosa

Aquele cutelo comprido
Quase deu cabo de mim
Mas foi o Meu orgulho ferido
Quem me deixou assim

Pede a Deus que tudo sabia
Que te guarde de todo o mal
Amanhã qualquer outro dia
Pra que não te aconteça igual

CHORUS

E aquela faca ardente
Corta-me a respiração
mora aqui no peito da gente
Interrompe-me o coração

A cidade em sobressalto
ela é minha testemunha
Peço a Deus que do lá do alto
nao oica a coisa nenhuma

CHORUS
Anda um conde galego
Afazer vida escandalosa
meu amor não arrenego
...Uma vida ambiciosa

Anda um conde galego (...)
Afazer ...vida escandalosa (...)
Não sabe oqué sossego
...No Paço d’aleivosa


Dizei à Rainha, minha Senhora, que Deus me guarde de mal, que assossegue em sua câmara e não haja nenhum temor, que eu não vim aqui para empecer a ela mas para fazer isto a este homem, que mo tinha bem merecido.
(Crônicas de Fernão Lopes)


RIBEIRINHA MINHA AMIGA

Ribeirinha minha amiga
Senhora dos meus sentidos
O meu jeito desajeitado
Dizem que anda enfeitiçado
Pelos ouvidos

Ribeirinha minha amiga,
Eu nem sei dizer que não
Por mais que acautele É
a tua branca pele faz suar o coração

CHORUS

Eu Nao sei se o sol se move
Ou se a lua se descobre
Vivo em cuidado, por meu amado
E cada beijo e uma ousadia

Juro que nao posso amar-te mais
do que te amo agora
Mas só Deus sabe, se tudo acabe
E se amanhã é um novo dia

Ribeirinha minha amiga,
Dizem que isto é bruxaria
Pragam condições,
Rogam maldições
Dizem não a romaria

Ribeirinha minha amiga,
Porque esta vontade é tanta
Os sinos da igreja,
Repicam de inveja,
E ferrugem De garganta

CHORUS


VIAJAR NA IDADE MÉDIA

Por aquela estrada que Roma deixou
Das poucas que o tempo não abandonou

Andam Peregrinos, monges e Mendigos
Por vontade sua ou vao por Castigos
- Vai seguir

Somos pirilampos a brilhar no Escuro
Trazemos recados vindos do futuro

E se o temporal assusta quem sai
Da-lhe uma Palmada na garupa e vai
- Vai seguir

Somos figurantes da cor d’Aguarela
De olhos abertos ao medo e a cautela

Ladroes e bandidos pela mata escura
Sao lobos famintos á nossa procura
- Vai seguir

Marcham mercenarios entre mercadores
Vao brilhando passo a luz dos tambores

A puxar carroça a cavalo ou a pé
O pó levantado embala a ralé
- Vai seguir

BRIDGE
Só a tua benção Frade hospitaleiro
Promete descanso a cada forasteiro

Que amanhã cedinho, de barriga cheia
Vamos a Caminho e o sol e uma Candeia


ATE OS MORTOS PAGAM

Terças-quartos, oitavos e rendas
jeiras, e outras encomendas

E O panal, o banal, o fossado
O suor não se vê respeitado

Ele são talha, o correto, e a colheita
Sanguessugas de vida insatisfeita

CHORUS
Pago o que posso
Por cada pai nosso
Outro soldo me foge da mão

Abre a porta á mão morta
és pobre o q’ importa
Vai tudo pra Igreja
Pela tua salvação

A miunça, a Corveia, o tostão
Estou as portas da mendigacao

O foro O censo, e a albernagem
So inventam por sacanagem

O mortório e a capitaçao
A sangrarem a compreensão

CHORUS

Abre a porta á mão morta
és pobre o q’ importa
Vai tudo pra Igreja
Pela tua salvação

BRIDGE
Nao te atrevas a morrer
Sem ouvir alguém dizer
Que tens permissão
Ou então
Levas com a lutuosa, (Que é) a mais dolorosa
pela tua indiscrição

BRIDGE

CODA
Paga morto paga morto paga
Paga morto que a morte também se quer paga


BRITES DE ALMEIDA

Com Seis dedos de bastão
Contados em cada mão
A minha boca rasgada

A mulher ossuda e feia,
Nao noivou com vida alheia
Por Ciúmes da minha espada

O meu peito peregrino
Deu-se ao vento libertino
Pla vida do tudo ou nada

O mar me quiz escravizar
quem e que pode separar
O sol da sombra pegada

CHORUS

E quando o forno se apagar
Conto com o meu lugar
no descanso do eterno

Mas se o céu não for assim
Volto na primeira chuva
Que Alguém ..se há-de lembrar de mim
Nem que seja no inferno

Quando Agosto aqui passou
E S. Jorge me chamou
Juntei-me aos entrincheirados

Tantos peões e arqueiros
madressilva de lanceiros
E uma ala de namorados

Vimo-los todos fugidos
Com mais sete inda benzidos
Na fornalha dos danados

E como era meu Serviço
com muito pão e chouriço
Foram bem aproveitados

CHORUS


LEPRA (O MAL PEGADIÇO)

Pela rua d’amargura
de sineta pela mão

Perdi toda a compostura
E só cheiro a podridão

Como um Lázaro andante
da quinta da Gafaria

Peço esmola da gaiola
Vestido de porcaria

A minha pele mal segura,
por um fio capilar
Vai rogando á noite escura
E pede a Deus pra me levar

E tão suja a minha pele
De pegadiço assombrada
Nem quem quer que se acautele
Anda surdo á Trovoada

O meu corpo fraco e breve
Nem sequer pode espirrar
Tenho medo que o vento leve
O nariz sem me avisar

CHORUS

CODA
Sem Maria nem pai nosso,
de olhos no fundo do poço
Uma febre que arrebenta
Que o diabo me pegou
Resta um fio de água benta
que um Anjo... me deixou


HA MOURO NA COSTA

A costa a costa cristão
Que A areia foi dessacrada
A costa a costa cristão
Vai d’Arriba a nossa armada

El-rei, mandou recado
Contra as galés do califado
Chamem as praias, toquem os sinos
Pele que dura, bravura e intestinos
(Anda, vamos)

A nossa terra azul e verde
Fica Entre o mar e a parede
Sangue de raça, Homens valentes
Setas e lanças, Machados unhas e dentes
(Até os comemos)

As Velas ao sol luminoso
Por El-rei todo poderoso
quilha direita, boca salgada
Espada no ar feita de espuma levantada

CHORUS
Vão ser só berros e gemidos
Tantos os ferros e grunhidos
Pelo na venta cabo e tormenta
Que a raiva e tanta ela quase Ma rebenta

A costa a costa cristão
Que A areia foi dessacrada
A costa a costa cristão
Mouro na costa Vai d’Arriba a nossa armada

Sao portugueses são audazes
A vomitar mas bons rapazes
coração forte a fumegar,
Pedras de fogo greeeeego, a balistar
(Da-lhe)

Ja vejo Meio-oceano,
Cheio de sangue Muçulmano
vitória certa, vaga gigante
Temos D Fuas como nosso almirante
(Viva)

CHORUS

gardunhos intro

Gardunhos” é um projecto musico-literário nado e criado a partir de uma releitura do livro "Contos arrepiantes da História de Portugal", editado pela Penguin Random House Portugal. O projecto "Gardunhos" consiste numa fusão experimental entre a música tradicional portuguesa e uma predilecção pela era medieval lusa e pelas artes cénicas, histriónicas da oratória e da palavra dita. Os temas do projecto “Gardunhos” percorrem quatro séculos da História portuguesa, tomando por referência alguns dos mais empolgantes momentos deste tão equívoco e fascinante período histórico. Apresenta-se um desses temas que se reporta à conquista de Santarém “Às portas de Santarém - 1147”. 

As canções-poema "Gardunhos" constituem evocações cinemáticas que visam abrir caminho a uma revisitação de uma época, de uma literatura, de um espírito, cuja intemporalidade é especialmente significativa pelo que possui de humana, galante, graciosa, desapiedada e bravia. 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Momentoso

Diptic

Não sou tipo para idolatrar quem quer que seja. Mas tenho os meus ídolos. Quando digo que o Al Jarreau é um dos meus ídolos que me acompanha desde há uns bons trinta anos, sei bem que não estou só na devoção. Já o vira numa tarde inesquecível em Newport. Mas agora foi em Oeiras. Depois de um extraordinário concerto, com uma banda fabulosa - Larry Williams ao piano? Que mais se pode pedir? - Desta vez tive a honra de privar com o homem durante uma meia hora. Cantámos o Stella by starlight, no meio de muito riso e deixou-se fotografar comigo. Deslumbramento e privilégio.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Gasto

"Desculpe, Sr. Correia, mas não temos."

"Mas se eu não tenho cheques, porque não os uso desde, para aí, os anos oitenta e não ando habitualmente com 1111 euros no bolso, como espera você que eu pague esta factura?"
"Eu sei, já não é o primeiro que... olhe...só se for pagar à nossa delegação de Alcobaça ou Leiria"

No ano passado instalei em casa um sistema de aquecimento central; embasbacado com a qualidade de vida que aquilo me trouxe, permitindo-me andar de manga curta nos dias de maior rigor invernoso, liguei o aquecimento ininterruptamente durante três ou quatro meses. Já se sabia o resultado. No fim do ano teria de acertar contas com a Companhia de gás. Assim foi. 1111 euros. Barato, para tanto bem estar.
Obedientemente, no dia aprazado lá fui pagar o que devo, mas no momento em que mostrei o cartão multibanco...

"Desculpe, Sr. Correia, mas não temos."

"Não posso pagar com multibanco?"
"Pois, não temos, não"
"Então, como é que?... Posso fazer uma transferência bancária, se quiser."
"Pois era, mas também não podemos."
"Isto é a lusitâniagás, certo? Do grupo GALP energia. O maior fornecedor de gás canalizado do país, certo?"
"Sim, tem razão, mas não podemos, acho que é por causa das taxas da unicre"
"Que... quer então que eu...?"

Saí dali e fui ao banco. Levantei mil cento e onze euros. Pedi, obviamente, notas pequenas. As mais pequenas eram de 10 euros.

Ao regressar, coloquei filmicamente o maço de notas na mesa (cena à Cagney) e, no momento em que iam pegar no dinheiro, interrompi o gesto e pedi:

"Só um momento." (Tirei, evidentemente, uma fotografia, que isto contado num blog, ninguém acredita.)




Ainda pensei em pedir para falar com alguém responsável, mas suspeito que me respondessem:

"Desculpe, Sr. Correia, mas não temos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Otelo morreu, viva Otelo

Tal como diz uma amiga minha que lida diariamente com estas questões "banqueiras" é insofismável que sejam as empresas de rating aquelas que mais beneficiam com estas crises, que objectivamente detonam, com o propósito claro e distinto de todos lhes enchermos os bolsos. Se se soubesse o que se sabe hoje, a revolução de Otelo não apenas tinha começado muito mais cedo como ainda não terminaria. Terá, quem sabe?, recomeçado agora

Who does?...





Não creio que seja possível que qualquer um de nós possa deixar de acreditar num ideal. Qualquer que ele seja, possuir uma visão guiadora do que o mundo deve ser importa na vida de cada um de nós a mesma importância que damos, ou devíamos dar, à respiração.

Hoje, num jantar cá em casa, ao conversar com um amigo, professor universitário de música, tomámos ambos a consciência do dilema que se colocou a Brahms quando escrevia o seu requiem. Ser ou não ser crente em Deus não tem a importância de haver a importância de crer em Deus. Nesse sentido, criar uma obra de arte que desvenda essa segunda, e por conseguinte primeira, importância, adquire o mesmíssimo dever que respirar.

Antes de mais nada, ter um ideal é fazer ideia. E fazer ideia, (tê-la, por exemplo), é um acto explicitamente exorbitante. Porque refulge dessa asfixia que resulta de respirarmos sem ar.

Como se diz na última fase do abissal Blade Runner
"Too bad she won't live. But then again, who does?!"

segunda-feira, 21 de março de 2011

Remissão impossível

Contado, ninguém acredita. A minha mãe pede-me que vá com ela a Fátima. Ela sabe o que eu penso sobre o assunto, mas sabe também que, se mo pede, vou com ela de bom grado. Na verdade, creio que nem suspeita da minha esquizofrénica relação com as igrejas. Considero-as todas um exercício oligárquico de poder irracional sobre os mais desgraçados. Nutro uma incontrolável indiferença calvinista por quase toda a arte religiosa. Ao mesmo tempo, porém, nenhum outro lugar público me transmite tanta calma como as igrejas. Em Coimbra, passei centenas de horas na Sé Velha a estudar, por ser ali que, no mundo todo, melhor se sente a serenidade temperada da chuva, como do sol.

É este o sentimento que transporto comigo quando entro em Fátima. Ao subir aquele formidável santuário, a minha mãe guia-me até à lotada capelinha das aparições, onde dezenas de pessoas silenciam ladainhas do rosário e ouvem o sermão do pároco. Emocionada, a minha mãe presta contas íntimas com a vida. Eu fico cá atrás, parado a observar todo este ritual que quase nada me diz,  mas é-me óbvio perceber a dor e a catarse que aquele recinto produz.  Exorto-me, pois, ao silêncio. Chora-se muito por trás de óculos de marca. Deixo-me envolver nos dramas que eu mesmo fantasio.

Pois estou eu neste fingimento pessoano quando reparo, de repente, na camisola do homem que está à minha frente. Escrita em letras garrafais nas suas costas, leio a seguinte frase:

"Mother fucking mountaneer".

"Mother fucking mountaneer".

Tal e qual.

Como vos disse, contado, ninguém acredita. Por isso, decido-me tirar uma fotografia. Várias.

 

Motherfm

Note-se que a minha pulsão pela iconoclastia não é pequena. Mas também não esperava tamanho incentivo. Não consigo deixar de pensar que aquele homem decidiu, como a minha mãe decidira, ir a Fátima nesse dia. E, ao ter de decidir, nessa manhã, o que iria levar vestido, achou que, de todas as camisolas que tem, aquela seria a melhor camisola para levar ao santuário da mãe de Jesus Cristo. Aquela sim, aquela é que está bem. E, pelo que me é dado perceber, apenas eu reparo na insolência têxtil daquele tipo. É a mim, ao menos prosélito de todos quantos entraram naquele dia, naquele lugar, que a camisola parece incomodar.

Ficarei sempre boquiaberto com a impertinência descarada destes católicos postiços e descuidados que conheci a vida inteira. Já pensei em tudo o que possa absolver o tipo. De nada adianta. Creio que nem o faz por mal. Apenas faz e é e pronto.

Chamo a isto a "Remissão impossível". Que diabo. Bem sei que o Livro diz que Cristo teve de subir a uma montanha para proferir um sermão, mas também não creio que isso tenha feito dele um montanheiro incestuoso.

 

 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Orbital

A messenger acaba de entrar na órbita de Mercúrio. Anda a tirar fotografias desde 2004. Vê-la a ligar o thruster a milhões de quilómetros daqui é desvanecedor. Que tempos estes.

Lição

Hoje conversei com a mãe de uma aluna minha. Uma mãe a valer. Ponderada, atenta, risonha e acutilante. Pobre, também. Muito. Mas de uma pobreza sem interferências no que deve ser a ponderação, a atenção, o humor e a objectividade de uma mãe. Que privilégio ter uma mãe assim. Naturalmente, os resultados saltam à vista, herdados de mãe para filha. Que torpeza uma mãe assim ter de pelejar tão desproporcionadamente contra a vida para a vencer com tamanha temperança. Que exemplo. O meu desejo para este ano é que eu saiba, como fez e faz a minha aluna tão bem, ter aprendido mais esta lição de vida.



sexta-feira, 4 de março de 2011

Possíveis impossibilidades

Fotografia

Como se esculpe a transparência?

É que...

A verdade é que cada vez me capacito mais de que não temos biografia. Apenas biologia. Haverá coisa mais perturbadora? Haverá coisa mais libertadora? Sobretudo hoje que morre a mãe de um amigo de alma?

quarta-feira, 2 de março de 2011

NASA space walk

Não sei se estão a ver isto. A gente vê as coisas com uma câmara instalada no capacete do astronauta. F a b u l o s o

Ordem nisto

Se existisse uma ordem dos professores ela seria mendicante?

space walk

A ver o space walk da discovery. 2 spacewalkers não se vê todos os dias. NASA.gov/ntv uma mulher coordena o passeio

sábado, 19 de fevereiro de 2011

guilty pleasure

Na exposição canina internacional com uma extraordinária fila de raças lusas. Não sou admirador destes controversos certames, mas adoramos cães e é irresistível. Ainda por cima com background music do George Benson. A minha bebé bate palmas. Qual polémica?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

voto a voto, uma segunda volta

No Coliseu dos Recreios, em apoio de uma esquerda resistente, limpa, adversária e una.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

voto a voto, uma segunda volta

No Coliseu dos Recreios, em apoio de uma esquerda resistente, limpa, adversária e una.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Camões e Alegre

Em apoio de uma esquerda indispensável. Na Camões em Leiria com Manuel Alegre.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

centenário, sim.

Que ninguém deve dispor de poder sem o merecer. Que prestamos contas a nós mesmos por tudo quanto fazemos e que isso custa. Que ninguém é condenado à morte porque escreveu um livro ou cantou uma canção. Que podemos rir-nos de tudo, sobretudo do que há de mais sério. Que devemos desprezar a superstição e crer na ciência percebendo com humildade que ela só não explica mais e melhor por estar na sua infância. Que a evolução humana é o sentido da sua existência. Que saber ler, escrever, contar e pensar são o pão para a boca de absolutamente todos. Que a liberdade de um só serve se beneficiar a liberdade do outro. Que defender as minorias e não as subestimar é bom. Que o sucesso de um não pode depender do insucesso do outro. Que conversando nos entendemos para agir. Que em nenhum caso se tira a vida a alguém. Que ninguém deve ser submetido contra sua vontade. Que todos temos o dever da revolta contra a iniquidade. Que está sempre quase tudo por fazer. Que é melhor ter mulheres livres do que tapá-las com um pano. Que as leis por que me rejo são ditadas por quem elejo. Que quem rejeita isto encolhe a sua dignidade. Que a minha orientação sexual é só isso que é e deve ser: a minha. Que nenhum homem deve tiranizar uma mulher ou um outro homem pela razão fascista da sua força. Que a pele e a origem são diferenças tão semelhantes como todas as outras diferenças que distinguem um irmão do outro. Que é fundamental que os nossos filhos nos ultrapassem no que temos de melhor. Que não é aceitável que se desista de lutar por ser feliz. Que a honestidade é um brio vencedor sobre o erro. Que ser feliz custa muito mas vale ainda mais. Que não falta tempo para parar depois de morrer. E que é isto e mais aquilo o que é ser-se, como sou, um correlegionário republicano

domingo, 3 de outubro de 2010

de pé

As medidas anunciadas pelo governo PS são tremendas. É inevitável agora que a contestação social cresça de tom. De todos os sectores surgem as mais variadas reacções. Para quem o vê do lado de fora, é notório que se respira mesmo dentro do partido socialista um desânimo capaz de derrubar, não apenas todos quantos se mostraram críticos da acção do governo, mas mesmo os mais indefectíveis. Não é exagero nenhum sentir que no partido socialista se contam os dias até que saia do poder. Fora do partido, o dilema é, porém, bem mais grave. Se, dentro do partido socialista, muitos continuam, agora mais do que nunca, a desejar contribuir para recentrar a matriz liberal, social, republicana e laica, no âmago do seu ideário, fora dele o indivíduo de esquerda está de cabeça perdida.

  

Em primeiro lugar, sabe que os partidos à direita não são opção. Reflectem o avanço das teias mecanicistas e tecnocráticas em que um certo PS se deixou enredar. Sabem que estas medidas, duras e cegas, foram tomadas há mais tempo por governos de direita, por essa Europa fora. A única coisa de que se acusa este governo é de ter deixado chegar as coisas a este estado – coisa de que, manifestamente, só por insciência é que se pode supor não chegaria a Portugal – e por não ter tomado medidas mais cedo. Ninguém o negará: caso fosse outro o partido no poder, a austeridade teria chegado bem mais cedo, e sempre, como não se cansam de repetir os inefáveis líderes da direita, sempre do lado da despesa. Traduzindo – a direita já há muito tempo tinha avançado com a redução de salários da função pública e cortes nos subsídios de Natal e Férias.

  

Não é aceitável dizer-se que os portugueses não podem pagar mais impostos e exigir-lhes cortes brutais nos seus salários, como pretende, de há muito, a direita. O que o PS fez até agora foi adiar esta medida até onde conseguiu. Uma medida que, estou em crer, lhe custará o poder. Não foi coragem, como muitos ainda procuram arengar. Foi, isso sim, inevitável.

  

Uma coisa é certa. É por demais, óbvio que os economistas são os técnicos em que menos se pode crer, actualmente. Temos prognósticos em todas as direcções. Até temos o mais célebre que os acha possíveis só no fim do jogo. Depois temos a restante esquerda, que está a ter o seu field day. Sem quaisquer posições funcionais que permitam diminuir o desemprego e recuperar a economia. Excelentes, surpreendentes mesmo, em matéria criatividade reivindicativa: convocar uma greve geral e evangelizar um utilíssimo “I told you so”. Tirar dinheiro aos mais ricos e, ao mesmo tempo, atrair o investimento, sem esquecer uma exemplar, histórica e patriótica incidência de impostos sobre a banca, que nos tirasse da crise amanhã por volta das nove.

 

Parece-me tudo muito eficaz e congruente. Sobretudo numa época em que os capitalistas têm o mundo inteiro para escolher onde possam instalar os seus interesses. E Portugal é mesmo um dos locais mais apetecíveis, não haja dúvida, para a banca. Estamos mesmo em posição de chantagear a mesmíssima banca que todos os dias nos chantageia a nós, inflaccionando os juros da nossa dívida, tornando-a virtualmente impagável. Atrair investidores para um país que não produz o suficiente para pagar as suas contas e as suas dívidas, parece-me uma esclarecida estratégia para a ruína. É profundamente irresponsável , sobretudo, inútil, a posição assumida pelos partidos à esquerda do PS. É uma espécie de capitalismo contra os capitalistas. Ver os partidos de esquerda em redor desta espécie de neo-NEP, leniniana, estratégica e contraditória deixa-nos a todos sem vontade de tentar sequer perceber para onde nos poderiam levar tais deslumbramentos.

 

Muito pragmaticamente, é numa matriz socialista que temos de encontrar uma via moderada, equilibrada, eficiente, para o futuro de Portugal. E isso faz-se através do exercício de uma cidadania activa e solícita para intervir. Uma intervenção dinâmica e não sentada atrás de conversas de café, jornais, emails ou blogs como este. É preciso participar na renovação das práticas e na renovação das lutas cívicas. É imensa a quantidade de gente de valor que neste momento se encontra ocupadíssima a não fazer nada, a não ser essa espécie de turismo político por onde tudo se condena, desde que esteja assegurada a condição indispensável de se poder continuar a estar sentadinho, continuar a não estar comprometido com coisa nenhuma. Muitas destas pessoas são alguns dos meus melhores amigos. Chamam a isso desânimo com a política, como se estivessem convencidos de que possa haver vida sem política. E sei que não estão. Que o desemprego se reduza sem política. E sabem que não reduz. Que possa haver política sem políticos. E sabem que não pode. Que possa haver desenvolvimento sem política. E sabem que não há. Tudo um absurdo de conveniência e comodismo. Investir na participação activa, independente ou militante, em movimentos políticos, trabalhadores, de cidadania funcional, em cada cidade, em cada freguesia, em cada campanha eleitoral, de forma a retomarmos a matriz liberal e social do socialismo democrático, é esta a única via actualmente credível. “Não tenho vida para isso” é a frase certa para que, dentro de pouco tempo, ninguém tenha é vida nenhuma.

 

Os inumeráveis e clamorosos insucessos deste governo, nomeadamente em matéria de justiça, educação e cultura, são a prova acabada de que há quase tudo, mais uma vez, por fazer. E dá trabalho. Mas de quem? Quem? Os outros. Baixar os braços perante os alumbramentos neoliberais, os excessos extremistas e a inércia cívica, juntando-nos à multidão dos nauseados com a política, cujo nojo infértil activamente contribui para que tudo o que condenamos possa progredir o seu caminho, tranquilamente, não é aceitável num cidadão inteligente. Muito menos o esperar que venha uma revolta. Um novo paradigma. Um novo… coiso. Uma nova redenção. Um novo… coiso. Que deite isto tudo abaixo para… Ridículo. É preciso o compromisso. Sair de casa. Lutar por um socialismo democrático. Como sempre. Como antigamente outros por nós o fizeram. É preciso, como antigamente, compreender o prime da confiança e o sub-prime de a devolver aos muitos milhares que hoje julgam mesmo que isso da esperança é coisa de ricos.

 

De pé.

De pé, pois.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

estacionamentalidade

Nunca vou compreender o que leva uma pessoa a estacionar em frente de um lugar de estacionamento vago. É uma patologia social. Não quer ocupá-lo? Quer, mas não? Está, mas não está? Será que este "condutor" diz para si mesmo: "Não me apetece nada estacionar aqui, mas uma coisa é certa: este lugar não há-de ser de mais ninguém".

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ainda dizem que a TV não dá nada

Óptima prestação do professor Paulo Prudêncio na SIC notícias, ontem. Criterioso, sem ser minucioso, técnico sem ser hermético, solto sem ser desmazelado, versátil sem ser desarrumado. Até lhe foi dado o benefício de saber não ter tempo para tudo o que tinha a dizer. Sei bem como estas coisas o não atraem. Já recusou destes convites telemediáticos trinta e duas mil vezes. É, por isso um prazer redobrado ver um homem trabalhador, sensato e lúcido a ser escutado. Mais pessoas o fizessem, mais pessoas o fossem e andariam as coisas de outro modo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Alvor

Ao fundo, um atelier de pintura.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

falsidades

A única revista que actualmente recebo regularmente em casa é a L+Arte que considero a melhor revista de arte portuguesa. A razão principal desta predilecção que a minha mulher me insuflou, é as crónicas impecavelmente íntegras da Raquel Henriques da Silva. E, a seguir, acho piada a ver as coisas da arte. Mas hoje trago-vos nota de um artigo do historiador Joaquim Oliveira Caetano que saiu este mês. É um artigo bom intitulado “Falso!” que me obrigou a passar o dia a pensar em palimpsestos, palavra uberemente poética que nunca consigo exorcizar, quando me assoma ao dia.

 

(Já sei. Vou fazer um ocr para que fiquem com ele, por não estar online. Quem é amigo, quem é? Aí vai:)

 

Poucos temas da arte passam com tanta facilidade para o grande público e para os meios de comunicação como a descoberta de um falso. O aspecto policial do logro e da astúcia tomam o interesse de um thriller e os valores assombrosos por vezes pagos no comércio de arte ajudam a dar um popular ar de justiça divina ao engano milionário. Mas, de facto, em boa verdade, é muito difícil que um falso escape, hoje, à bateria de exames que se podem fazer para o conhecimento material de uma obra de arte e, talvez por isso - pela extrema pormenorização com que se podem observar suportes, preparações, pigmentos e meios -, o 'falso", nas suas várias cambiantes, tenha passado a ser também um tema de estudo da História da Arte.

 

Em dois congressos em que estive nos últimos anos, sobre pintura flamenga, houve comunicações e discussões sobre a "atribuição" a este ou àquele falsário, e duas grandes exposições, nos últimos anos, trataram diferentemente o tema: uma no Museu de Arte e História de Genebra, "L'art d'imiter", comissariada por Mauro Natale e Claude Ritschard, em 1997, dedicada às cópias e falsificações sobre pinturas da Ranascença Italiana, e outra, no Groeningemuseum de Bruges, em 2004-5, devida a TilI-Holger Borchert, van Schoute e Héléne Verousgstraete, dedicada aos primitivos flamengos, sob o título "Fake or not Fake - Restaurateurs ou faussaires des Primitifs Flamands". Esta última centrava-se em grande parte na figura de Joseph Van der Veken, um dos mais talentosos restauradores, peritos e, por vezes, falsificador, do século XX. A sua enorme habilidade e conhecimento da técnica dos pintores primitivos flamengos possibilitava-lhe completar pinturas com imensas áreas de lacunas, ao ponto de ser muito mais o refeito do que o original. O restauro extensivo é apenas uma das formas das cambiantes entre o falso e o original. Mas talvez a forma mais vulgar de consumir "gato por lebre" seja a involuntária (pelo menos quase sempre) má atribuição, o erro do historiador ou do perito.

 

A exposição que a National Gallery de Londres têm aberta até 12 de Setembro, "Close Examination: Fakes, Mistakes and Discoveries" é o mais bem conseguido ensaio que conheço de transformar o problema dos "falsos" num real e interessante problema de História da Arte. A exposição mostra apenas um "verdadeiro falso", isto é, uma obra feita de ponta a ponta com a intenção de conseguir proventos através da sua venda enganosa: um retrato de grupo da família Montefeltro, sobre o qual, muito antes das análises científicas o provarem, já recaíam suspeitas, dado representar padrões de tecidos e formas de usar adereços pouco aceitáveis para o século XV. Todos outros casos mostrados são mais interessantes. Um fantástico retrato de Alexander Mornauer viu o seu fundo recoberto de azul para o tornar mais próximo de Holbein e gozar assim da fama que o pintor tinha na Inglaterra. Uma mulher alemã do século XVI vê-se emagrecida e de cabelo mais escuro, para se tornar mais vendável, ao gosto pré-rafaelita. As pinturas de um tecto de Ferrara são esquartejadas para se tornarem mais atraentes; pequenos quadros profanos agradáveis em qualquer salão. Em todos estes casos, descobrir o "falso"é descobrir a história por que passaram as pinturas e como se foram adequando aos gostos, ao mercados e às expectativas de outras épocas. A exposição apresenta quase 30 exemplos (nem todos com correspondência no breve catálogo) que são, ao mesmo tempo, demonstrações das técnicas de abordagem científica do processo criativo e interessantes estudos de caso de problemas que vão sendo resolvidos do ponto de vista da História da Arte.

 

Por fim, gostaria de sublinhar dois aspectos. Em primeiro lugar as preocupações "científicas" da National Gallery datam do século XIX, dado o problema da poluição no centro de Londres e os seus efeitos na pintura. Desenvolveram-se muito, depois da II Guerra, também com a descoberta, quase colateral, dos efeitos benéficos que o ambiente estável das minas de Gales teve nas obras enquanto lá estiveram defendidas dos azares do conflito. Depois da II Guerra, o laboratório desenvolveu-se a par com as dúvidas da História da Arte e o aumento de tecnologia disponível, mas sobretudo pela necessidade de preservação do objecto artístico. Isto é, mesmo a tecnologia de ponta na investigação resultou, em última análise, do esforço dos museus para preservarem do tempo os objectos que guardam. Voltaremos a esta ideia, porque o óbvio tem andado esquecido entre nós.

cojones e animales

Sempre que em qualquer lado se faz um referendo ao aborto, surgem os eufemistas do “pró-vida”, para dar a entender que os seus opositores querem pôr na lei que é preciso fazer morrer pessoas. Com a proibição das touradas na Catalunha é extraordinário que aqueles que querem ir a um sítio ir ver espetar ferros pontiagudos e coloridos em touros, escolham o eufemismo “pela liberdade”. Presume-se que lutem pela liberdade de furar os costados do animal. Um touro sim, um cão, não, que é violência. Imagino que garantir essa liberdade, mas em relação aos homens seria coisa interessante. Quero espetar um garfo no olho do senhor guarda nacional republicano que me passou uma multa, o fascista. Nada mais simples. Grito “Liberdade, liberdade, liberdade”. Sou, de repente, um pró-liberdade. Na cadeia. E diz o el mundo que “triunfaron los animales”. Visto daqui, dá a entender que “animales” são os que perderam.

Por falar em animales e gente que luta pela liberdade de disparar de helicópteros contra animales. Sarah Palin diz que o Obama não tem “cojones” para resolver a questão da imigração. Especialistas. Temos de escutar os especialistas. Parem lá de rir. Aqui.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

noven(t)a

No dia em que o Ray fez anos. O Deus, os monstros e os anjos.

memo

Não sei o que pensam fazer no próximo 7 de Agosto, mas se os vossos planos não incluem vestir o melhor fato, pôr o melhor vestido, envergar a melhor disposição ir ver a Carmen Souza e o Theo Pas’cal  ao CCC, é porque faz-vos sentido passar ao lado das coisas. E não é suposto ser assim. É memo para seguir. Elucidativo é ver as influências que a moça selecciona no seu myspace: Ella, Weather, Jaco, Joni, Bill Evans, Zawinul, to name a few. E o que tem de ser…

domingo, 1 de agosto de 2010

feissebuque

Agora que, nas escolas, já ninguém chumba, nem por faltas, nem por coisa nenhuma, só para que o insucesso enfim diminua (isto é de gargalhar), a autoridade dos professores, deve confessar-se, sai reforçadíssima. A autoridade dos alunos é que caiu por terra. Senão vejamos: ['té parece que já me estou a ver a dizer aos alunos].

 

"Amiguinho, o menino acha que está por aqui a mais e não lhe apetece estudar, não é? Shtá borrecido. Atão, faça-nos lá o obséquio de ir dar uma volta ao bilhar grande. Está-se bem, 'tá-se tão melhor na rua, co'este solinho. No sequei-te parque. Como? Falta? Que falta? Ná. Não sabe a última? Ah, poizé, você não lê jornais. Não lê nada, de resto, a num ser éssémiésses, aifaive e feissebuque. Esteja o infante descansado, porque assimcumássim o menino nem chumba por causa das faltas. Sim. A sério. Palavra de honra que é verdade. Se quiser até as pode justificar porque é preciso que as justifique para que sim. b'tarde. Ó Mariana, agora que o Fábio has left the building, acabe lá de ler o texto do Descartes. Sim, a parte dos Universais."

 

Agora é assim: se por ventura, um jovem tem em casa quem lhe ensine a importância de aprender coisas e saber mais, tudo se segura. Caso assim não seja, e o que mais há neste país é gente a achar que a escola não ensina nada que se aproveite - numa época em que ninguém percebe os clássicos, a culpa é dos clássicos - então resta aos meninos o sempiterno e omnipresente bilhar grande. E não há-de ser às três tabelas, que isso exige cálculo. Há-de ser às três pancadas.

sábado, 31 de julho de 2010

what's up, docs?

Acontece sempre isto no Verão. Deito-me um pouco mais tarde e acabo a noite a ver um documentário qualquer que devia passar a horas decentes. Ontem gostei imenso de um filme feito pelos franceses Jules and Gedeon Naudet e o bombeiro James Hanlon que registaram em vídeo tudo o que se passou no interior do World Trade Center. Chama-se 9|11, é humaníssimo e revelador do transe por que passaram aqueles homens e aqueles dias. Aqui.

 

Outro documentário - já quase não vejo outra coisa na televisão - é a série documental extreme phobias, da bbc, com a participação de James Bennett-Levy (um australiano behaviorista cognitivo). Ter um pavor paralisador de botões da roupa, sapos, flores, estrelas do céu, esponja, teias de aranha, torres eólicas, ouriços, algodão, pássaros, joelhos (sim, joelhos) e, pasme-se, o caso de um cozinheiro que entra em pânico sempre que vê... feijões e o caminho terapêutico que estas pessoas, em tudo o mais absolutamente normais, percorrem, é um incrível documento que cumpre não perder. Aqui.

Pena é que apenas sejam exibidas estas coisas a horas tão inclementes.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

cinzas

Recuperei agora de um tufão informático-eléctrico que me volatilizou dois discos de backup. Perdi montanhas de coisas. Andei uns dias, confesso-vos, aturdido com tanta, tanta coisa que me desapareceu para sempre. Mas fui, todavia, recenseando as coisas que verdadeiramente me entristeceria ver perdidas. Concluí, entre ruínas e despojos, que existem poucas coisas insubstituíveis. Quase nada, afinal. Uma fotografia aqui, um texto ali. Mas tudo, tudo, pessoas ou memórias de pessoas. O que começou por ser um cataclismo, acabou em redenção intelectual. Do estremecimento inicial sobrou sossegadamente um sentimento de renovação. Nunca voltamos ao princípio.

É empolgante compreender à séria como hoje é sempre depois.

Reiniciemo-nos, então. Cada dia.

cinzas

Recuperei agora de um tufão informático-eléctrico que me volatilizou dois discos de backup. Perdi montanhas de coisas. Andei uns dias, confesso-vos, aturdido com tanta, tanta coisa que me desapareceu para sempre. Mas fui, todavia, recenseando as coisas que verdadeiramente me entristeceria ver perdidas. Concluí, entre ruínas e despojos, que existem poucas coisas insubstituíveis. Quase nada, afinal. Uma fotografia aqui, um texto ali. Mas tudo, tudo, pessoas ou memórias de pessoas. O que começou por ser um cataclismo, acabou em redenção intelectual. Do estremecimento inicial sobrou sossegadamente um sentimento de renovação. Nunca voltamos ao princípio.

É empolgante compreender à séria como hoje é sempre depois.

Reiniciemo-nos, então. Cada dia.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O que é maior?

A estupidez das pessoas ou a estupidez das pessoas que avaliam a estupidez das pessoas?


o dever de não dizer deve de

Já não suporto ouvir dizer “deve de”. Vê-lo numa caixa de diálogo de uma aplicação, faz-me recordar que o insucesso escolar tem de ir parar a algum lado. Devia… ser proibido.